terça-feira, 5 de julho de 2011

VINICIUS TOBIAS

Vinicius Tobias é poeta, agitador cultural e estudante de jornalismo. Tem 21 anos e autorizou esta entrevista ao blog Sociedade Mutuante em 05/ 07/ 2011.

QUAL VERTENTE ARTÍSTICA SEGUE? ALÉM DESTE SEGMENTO, HÁ OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS QUE GOSTARIA DE EXPERIMENTAR?

É difícil falar do que se faz no tempo em que se faz. Procuro me fixar em escrever a poesia que sinto e fugir o quanto puder de modelos pré-concebidos; alguma certeza que tenho é que não gosto de intelectualidade, de literatura catedrática, de adoração de "Deuses" da poesia ou de qualquer outra coisa, tento, portanto transpor essa concepção anárquica aos escritos, sem perder o contato com a realidade e sem cair em vícios pseudo-esquerdistas. Quero integração e não desmembramentos. Quanto à experimentar, sou doido para ter uma banda de música experimental e outra punk!


P
OSSUI TRABALHOS PUBLICADOS? QUAIS?

Bom, já fui contemplado com publicação pelos zine Barkaça e também no blog deles. Independentemente lanço fanzines de poesia xerocados e saio vendendo por aí, bem Mambembe. Já lancei 2. O Raparam a panela e agora estou com fome e Cada um no seu quadrado - Onde ponho uma maçã no universo?. Isso tudo são capítulos de um livro de poesia que vai abordar as várias facetas da revolta. Faltam ainda os outro 4 facículos-zines que estou trabalhando neles; são: O futuro humano dos Robôs de hoje - Meu andróide favorito; ; ; Metal Físico ; ; ; Diálogos entre a razão e a lógica e por fim Intervenção Humana.


QUANDO COMEÇOU A SE ENVOLVER COM ARTE?

É difícil dizer. Vou dizer que é quando minha mãe lia Turma da Mônica quando era bebê ou quando sem amigos na pré-adolescência, lia livros o tempo todo tentando compensar alguma coisa que não adiantava. Não dá pra falar. O fato é que lá pelos 14 anos me liguei num grupo de amigos na cidade onde fui criado Ijaci/MG que foi crucial para o desenvolvimento de meu espírito critico tão necessário hoje e sempre, nos tão sem noção antros artísticos. Demorei por demais a ler poesia, era muito mais chato que os romances, quando li as primeiras que gostei comecei a escrever também. A capacidade de síntese da poesia e a potencialidade de dizer tudo de importante com algumas poucas palavras me encantou.


PODERIA RELATAR DE FORMA SIMPLIFICADA UM DIVISOR DE ÁGUAS EM SUA CARREIRA ARTÍSTICA?

Minha "carreira" é muito recente e é por isso que resolvi por aspas; e nem sei se dá pra falar tão claramente de um divisor de águas. E pode ser que isso ainda venha a acontecer. Mas foram várias coisas; meu contato com os grupos LESMA e Barkaça na poesia, o afloramento e a grande recepção do projeto 5ª Cultural na faculdade em que me vi de repente ajudando a produzir um festival e sem dúvidas a leitura de O homem revoltado de Albert Camus. Antes de ler o ensaio escrevia e não sabia o que fazer com os poemas. Eram todos jogados e não tinham muita relação com o todo. A leitura me ensinou o lugar de cada coisa.


INFLUÊNCIAS E/OU PREDILEÇÕES NO CAMPO DA ARTE?

Piro em primeiro lugar em quadrinhos. Gosto tanto de quadrinhos que não consigo eleger o que mais gosto e se fosse falar detalhadamente de preferências faria logo uma relação de uns 10. Agora na música e na literatura minha tietagem é mais tranquila e eu já posso falar de uma galera sem ficar desesperado por cometer injustiças. Na música é sem dúvida a galera da Vanguarda de 80. Toda ela. Na literatura tenho como referência principal o grande Torquato, neto além do pessoal Beatnick.


UM MOMENTO MARCANTE EM SUA TRAJETÓRIA CULTURAL?

A pergunta foi por um, mas se permite contarei 2 momentos. Um de embate e outro de construção. O de construção foi o III Festival Cultura de 5ª ano passado, quando consegui convergi os dois grupos que nos apadrinham (como disse antes o LESMA e o Barkaça), e com o meu grupo já pronto, fizemos um grande estrago na área de poesia do festival, além disso, tocaram bandas ótimas que tão mudando o cenário de São João del-Rei, o Arquitetos do Universo e Banana em Transe. O outro momento foi durante o FELIT do ano passado, quando nós do grupo Larvas tentamos ir à um evento organizado pelo LESMA em um dos distritos de Conselheiro Lafaiete e não conseguimos carona por estarmos demais porra-loucas de visual. Não conseguimos ir, então relutamos em assistir ao FELIT que acontece em São João del-Rei (a galera de São João toda tem birra com o FELIT por ser por demais elitista, não dialogar com a cidade e não respeitar a cena da cidade). Fomos e vimos 4 poetas de capital recitando seus poemas de perna cruzada, rindo amigavelmente e dizendo citações pomposas. Acabando a mesa redonda abriu-se ao público furioso um palco livre de poesia. Alin Bisgodofu iniciou as declamações e a galera ficou tão de cara que no segundo poema os autores (que se apresentariam no palco livre), estavam indo embora em protesto. Mais algumas pessoas pegaram o microfone e quando nós fizemos nosso recital ideológico onde se diz que da última composição do poeta são os versos e em primeiro lugar o risco, gritando contra as altitudes elevadas da arte e mostrando a bunda pra eles, os produtores acabaram com o palco livre com a desculpa que tinham que dormir.


QUAL É A SUA FORMAÇÃO? EM QUE MEDIDA ESTA INFLUENCIOU SUA TRAJETÓRIA CULTURAL?

Não sei por que sou anarquista, mas isso me influência pacaralho. Nunca fui punk nem grande leitor de teoria política. Mas acredito na potencialidade de cada um e na negação da cultura majoritária elitista branca. Eu acho que isso tudo tá pra ir água abaixo e agente vai sorrir diante de um planeta que nunca conseguiríamos imaginar. Pra isso, há de haver combate, há de haver destruição e novas construções, tenho meu aparato ideológico "ideal" como um arcabouço crítico pra nunca seguir na contramão de minhas verdades...


COMO SE DEU O PROCESSO DE PUBLICAÇÃO E DE DIVULGAÇÃO DE SEUS ZINES?

Com 17 anos já tinha escrito a maioria dos poemas que se encontra nesses dois primeiros fascículos de Intervenção Humana (e nos outros também), e já tinha esse nome. Só que a coisa estava bagunçada demais e eu, embora tendo produzido, não compreendia o que aquilo queria dizer, só o que eu sabia é que era sobre a revolta e a indignação. Mesmo os belos, os tranqüilos, os de bom humor... A elucidação se encontrou, como já citei, durante a leitura do ensaio O homem revoltado de Albert Camus, ele explicou tim tim por tim tim as minhas concepções todas bagunçadas, e, maravilhado, vi aquela obra escalando e organizando tudo o que de subjetivo que eu tinha criado. Se eu não queria dizer tudo àquilo com meus poemas, o que ocorreu foi uma grande re-significação da minha poesia. Acabei de ler algum capítulo e formulei de uma só vez os nomes de todos os capítulos que estão discriminados acima com as pré-disposições e naturezas da revolta: A necessidade extrema, a tentativa de re-organizar a realidade, a falta de perspectiva no futuro, a revolta metafísica, a construção de uma nova lógica e por fim a própria revolta e intervenção. Resolvi então lançar esses capítulos em zines, pra entrar nesse lance de independência e também pra ir divulgando meu trabalho. A resposta tá sendo boa.


QUAL A PROPOSTA DOS SJOS & MALAVRADOS E DO GRUPO LARVAS POESIA? HÁ ALGUM PONTO EM COMUM ENTRE ELES? COMO SE DEU O SEU ENVOLVIMENTO EM CADA UM DELES?

Bom, o Sjos e Malavrados deu origem ao Larvas e não existe mais. Criamos ele quando fomos convidados para a 3ª Maratona Barkaça e o Mingau nos perguntou numa conversa on-line "Vocês vão se apresentar juntos?" e nós dissemos "Vamos!". E correndo fizemos um nome que remetesse ao que iríamos falar e às cidades das quais vínhamos (São João del-Rei e Lavras) e era O Sjo e o Malavrado antes. O plural do nome ficou foi por conta do Mingau nas diversas vezes que nos apresentou. No ônibus de volta de Divinópolis fechamos toda a ideia do coletivo e o nome Larvas (temos até um slogan "Não existe primavera sem borboletas e não existe borboletas sem Larvas"). O Sjo & Malavrado então virou o nome do recital. Hoje esse recital se chama "Não se faz com versos" e está bastante modificado desde a primeira apresentação. Hoje o Grupo Larvas Poesia tem mais integrantes que compõe o núcleo poético e o núcleo de produção, a ideia é produzir eventos e materiais artísticos. Quem quiser manter contato só sacar o blog larvaspoesia.blogspot.com.


QUAIS SÃO OS SEUS PLANOS FUTUROS?

Dentro do Grupo Larvas estamos montando uma exposição de fotos e poesia chamada "Resultado das Lavras", que vai trabalhar com a temática do que resulta a exploração desenfreada, não da natureza, mas das almas jogadas nessa loucura chamada cidade. Esse é um projeto que tende a se alongar resultando pesquisas e ações, espero. Quero também tranquilamente acabar de lançar meus fanzines e se tudo der certo, a coleção de todos no então livro Intervenção Humana. O grupo Larvas também planeja para o ano que vem o lançamento de um jornal e da primeira edição do seu festival de cultura com ênfase em poesia em lavras. Será intitulado de Primavera de Pragas - Cultura underground e poesia. Nisso vamo vendo o que vai acontecendo e planejando sem grandes megalomanias. (tirando meu sonho de criança de roteirizar uma HQ, ainda chego lá ! - - se algum desenhista topar...).

Um comentário:

Larvas Poesia disse...

vlw aí pelo espaço galera
vou deixar aqui pelo menos o poema que fez a galera acabar com o palco livre do felit é um do Ferlingheti

"A verdade não é um segredo de poucos"
porém
você pensaria que é
pela maneira como
os bibliotecários
e os adidos culturais e
especialmente os diretores de museu
agem

até parece que eles detêm o monopólio
da verdade
pelo ar
pomposo como avançam
de nariz empinado
aparenteando que jamais
vão ao banheiro
ou coisa parecida

Mas se eu fosse você
não os condenaria
Eles asseguram que os Assuntos Espirituais são
melhor formulados em termos abstratos
e além do mais
perambular pelos museus sempre me deu
uma vontade louca de
"arriar as calças"
Sempre me sinto tão
constipado
nestas
altitudes elevadas

L.F