segunda-feira, 16 de março de 2009

FRANCESCO NAPOLI



Francesco Napoli é poeta e músico. Autorizou esta entrevista ao blog Sociedade Mutuante em 16 /03/2009.


QUAL VERTENTE ARTÍSTICA SEGUE? ALÉM DESTE SEGMENTO, HÁ OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS QUE GOSTARIA DE EXPERIMENTAR?
Sou um poeta que toca guitarra. Também gosto muito de violão popular e de bossa nova. Minha escola é a música pop. Principalmente o rock e sempre me interessei por propostas experimentais. Estudei guitarra até perceber que minha relação com a música não era a de instrumentista, que era o que eu estava me tornando... Este momento coincidiu com minha graduação em História e meu ingresso na docência e na vida acadêmica de forma efetiva. Desde então comecei a lidar com a arte de modo radicalmente experimental, já que a docência passou a garantir meu sustento e não tive mais que tocar em bares (referência à canção de meu colega Makely ka). Esta vivência acadêmica me permitiu lidar com a arte de modo aprofundado e sem concessões. Fiz mestrado em Estética e Filosofia da arte e venho conseguindo conciliar a vida acadêmica, docente e artística. Minha vertente é a poesia, antes de tudo e meu modo de lidar com a música tem um viés poético eminente. Quando estou compondo, escrevendo um texto acadêmico, ou buscando uma solução de guitarra, baixo ou violão para uma canção, há algo em comum que liga estas coisas, e eu acredito que é a poesia. Me interesso muito por performance e artes plásticas. Meu mestrado envolveu Duchamp e isso me influencia muito! Este ano quero desenvolver um projeto intitulado “Laboratório Aleatório” que envolve muito a performance poética, vídeo e música. Quanto às artes plásticas, quem sabe um dia me permito estudar o manuseio, as técnicas e a prática de pintar telas, pois só sei teoricamente...


POSSUI TRABALHOS PUBLICADOS? QUAIS?

Possuo um livro de poesia produzido de modo artesanal e publicado de modo independente, intitulado “sobre alguma coisa, sobre coisa alguma ou meta poesia sem meta”, de 2004. Neste ano pretendo fazer outro livro. Estou repleto de textos que me agradam profundamente e sinto que é a hora de tirá-los da gaveta!
Outras publicações se referem a produções fonográficas. Meu primeiro trabalho musical foi o disco “Panacea/Anexus”, lançado em 2001 pelo meu próprio selo independente o “Varal Discos”. Este foi um projeto apoiado por Felipe Lisciel do antigo estúdio Porão que reuniu dois grupos da cena independente de BH na época, o meu grupo “Panacea” e a banda “Anexus”.
Depois veio o cd “Santa Cruz Rock Arte Festival”, em 2002, fruto de um projeto que eu realizei durante seis anos no bairro Santa Cruz que consistia em um show anual reunindo a cena independente da região. Principalmente os grupos que ensaiavam em meu estúdio, localizado no bairro. Na época eu escrevia uma coluna musical no jornal do bairro o “Jornal Horizonte”, editado pelo grande Luís Gimenez, que divulgava as bandas e promovia interação entre os músicos. Entre este grupos destacaram-se 100CR, Dead fun House, Entropia, Projeto Confuso, El dia de los Muertos, Prole.idem, Concreto, Furo, Pilar, Adhesive, dentre outros.

No ano de 2003 o Varal Discos lançou o cd “Esmo” produzido por mim, que reuniu grupos de BH com a proposta de registrarem, ao vivo, um improviso. Participaram MIC, Furo, Prole.idem, Alunar, Cabala (atualmente adhesive), Anexus, Sonar, A Casa, Zanzara e Panacea.
Em 2004 participei como guitarrista da banda “A Casa” que produziu um disco homônimo lançado pelo Varal Discos. Neste mesmo ano o Zanzara lançou um cd demo pelo Varal Discos, ambos esgotados.
Em 2005 passei a me dedicar à vida acadêmica com mais intensidade e neste ano fiquei estudando para o concurso de mestrado. Em 2006 e 2007 me dediquei à pesquisa do mestrado e, paralelamente, me envolvi em alguns projetos artísticos. Passei a integrar o grupo borTam que lançou o cd “Música Brasileira” em julho de 2007, um compacto com 4 músicas lançado pelo selo independente aă. Com a participação da percussionista e cantora Raquel Coutinho e do baixista Alexandre Rodarte. Também nesse ano foi lançado o cd “Zanzara”.
Em 2008 fui convidado para produzir o disco “Do pop ao rock” lançado pelo Estúdio Acustic que reuniu bandas de rock da cena independente de BH.
Publiquei também três números do fanzine t.a.z. com poemas de autores mineiros.


QUANDO COMEÇOU A SE ENVOLVER COM ARTE?
Minha relação com a arte sempre existiu desde criança. Por volta dos oito nove anos eu já me imaginava um cantor e inventava canções em idiomas inexistentes. Aos 13 anos eu tinha um colega de escola que escrevia poesias e me pedia ajuda para encontrar soluções para seus versos. Me identifiquei com aquilo, pois fui criado em um ambiente muito musical e poético, muito por conta de minha mãe. Desde então comecei a escrever também e me interessar por literatura. Aos 14 comecei a estudar violão e aos 15 tive minha primeira guitarra. Desde então sempre integrei bandas e escrevi canções.


PODERIA RELATAR DE FORMA SIMPLIFICADA UM DIVISOR DE ÁGUAS EM SUA CARREIRA?
Quando parei de trabalhar como músico free lance e passei a me dedicar a experimentações artísticas, sem ser obrigado a fazer concessões.


INFLUÊNCIAS E/OU PREDILEÇÕES?
Prefiro sempre o improvável, o imprevisível, o experimental.
Duchamp, Syd Barret, Radiohead, Tom Zé, Itamar Assumpção, Tzara, Caetano Veloso, Nietzsche, Benjamin, Manoel de Barros, Pareyson, Sonic Youth, Buñuel, Cage, nesse caminho...


UM MOMENTO MARCANTE EM SUA TRAJETÓRIA?
Os recitais do “Poros Reminiscências & Vertigens” em Portugal e no PSIU poético em Montes Claros. A abertura do show da Patife Band tocando com o Caveira my friend. O show do borTam no bar do FIT, com participações de Pedro Morais, Raquel Coutinho e Carla Gomes; O show de lançamento do cd “Zanzara” no teatro Marília; dentre outros...


QUAL É A SUA FORMAÇÃO? EM QUE MEDIDA ESTA INFLUENCIOU SUA TRAJETÓRIA ARTÍSTICA?
Sou graduado em História, fiz especialização em Filosofia e mestrado em Filosofia. Atualmente faço uma disciplina do doutorado em letras com a professora Vera Casa Nova e outra disciplina na Belas Artes. Meu doutorado com certeza terá um desses caminhos...
Há uma relação direta de minha formação com minha trajetória artística. Minhas escolhas e poética estão diretamente ligadas aos meus objetos de estudo. Por exemplo: em minha dissertação eu explico os conceitos do filósofo italiano Luigi Pareyson para descrever o processo artístico e minha experiência artística sempre foi a melhor ilustração.


COMO SE DEU O PROCESSO DE PUBLICAÇÃO E DE DIVULGAÇÃO DO SEU LIVRO “SOBRE ALGUMA COISA, SOBRE COISA ALGUMA OU META POESIA SEM META”?
Houve um convite por parte de um grande amigo: o grande mestre William Morais, que na época trabalhava em uma livraria e conheceu uns editores que faziam livros artesanais e tinham o interesse de lançar novos autores. Eu me aproximei e o livro foi editado e confeccionado por eles: Alex & Clô – Livros artesanais. A tiragem foi de cem exemplares dos quais não tenho nenhum... O Marcelo Dolabela escreveu uma apresentação que foi publicada em sua coluna no jornal Hoje em Dia. Hoje gosto de muito pouca coisa deste livro...


QUAIS SÃO AS PROPOSTAS DOS GRUPOS ZANZARA, CAVEIRA MY FRIEND E BORTAM? HÁ ALGUM PONTO EM COMUM NESTES PROJETOS? COMO SE DEU O SEU ENVOLVIMENTO EM CADA UM DELES?
O Zanzara tem muitas músicas novas e pretendemos gravá-las até o fim do ano para fazer um segundo cd.

O Caveira My Friend deve entrar em estúdio pela primeira vez este ano e lançaremos um cd demo. Para ambas bandas basta um convite e agente se apresenta ao vivo!
O borTam está ensaiando freneticamente e não pretendemos tocar ao vivo este semestre para entrarmos em estúdio este ano e gravarmos um segundo disco.
O Zanzara é um projeto antigo. Desde 2001 eu e o Hector Gaete desenvolvemos este projeto que consiste em rock. É uma banda que toca pouco, mas produz muito!
O Caveira My Friend é um projeto do Marcelo Dolabela que me convidou para tocar guitarra. Eu adoro esta banda e acho a coisa mais anárquica que eu faço! Mamão Mamede, percussionista do borTam assumiu o baixo do Caveira, posto que o Hector Gaete também já freqüentou.
O borTam é um projeto de Mamão Mamede, percussionista que me convidou para tocar guitarra em seu projeto, a coisa cresceu e nos tornamos um grupo de música pop/regional/experimental.
Tem também o “Balaústres Reagge e as Flores Astrais” uma banda de punk formada por mim, A Poliana Rozado e o Cristiano Curinga, antigo baterista do Panacea. Esta banda tem zero shows e dois ensaios...
E, por fim, o jazzmafra, um projeto de anti-música dadaísta experimental e aleatória que é formado por mim e Mamão Mamede.

São projetos totalmente distintos que têm em comum a minha guitarra. É interessante pensar como consigo ser dinâmico para encontrar soluções de guitarra para propostas tão distintas e ao mesmo tempo manter meu estilo. É o que sempre me esforço pra fazer!


QUAIS SÃO OS SEUS PLANOS FUTUROS?
O Laboratório Aleatório é um projeto no qual pretendo investir este ano. Consiste em uma continuação do “Poros, Reminiscências e Vertigens”, performance intermídia que envolve música, poesia, vídeo e dança. Ainda não sei como vai ser o Laboratório, mas será a coisa mais experimental que já fiz...
Quero também escoar minhas composições por meio festivais de música e shows mais intimistas. Compus uma canção com um cara chamado Raphael Sales que é incrível! Quero desenvolver meios de fazê-las vir a público.
Este ano também quero editar um novo livro de poemas! Se eu conseguir fazer metade de tudo o que eu falei aqui, to feliz!

Nenhum comentário: