domingo, 26 de abril de 2009

DÉLIO PINHEIRO


Délio Pinheiro é jornalista, poeta e tem 30 anos. Autorizou esta entrevista ao blog Sociedade Mutuante em 24 /04/2009.


QUAL VERTENTE ARTÍSTICA SEGUE? ALÉM DESTE SEGMENTO, HÁ OUTRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS QUE GOSTARIA DE EXPERIMENTAR?
Não sigo nenhuma vertente artística específica na Literatura, apesar de me interessar, enquanto leitor, por diversas delas. Na hora de escrever procuro me filiar à minha intuição. Meu primeiro livro, de poesia, trouxe essa característica bem explicitada. No próximo livro, um romance, será possível perceber elementos do realismo fantástico. Mesmo assim não pretendo me manter fiel a nenhum gênero e a nenhum seguimento específico. Quando digo próximo livro me refiro ao fato de ter um romance inédito, mas não há nenhum tipo de intenção de lançá-lo por agora. A maré não está pra peixe, sobretudo os pequenos. “Quem vive de livro no Brasil é Coelho e traça”, já disse alguém, num arroubo de sinceridade. E como não tenho estômago para ser um mago alquimista e nem um escritor que recebe, ou diz receber, mensagens do além, vou adiando meu livro. Mas ainda bem que temos a internet, esse atalho para alcançarmos os leitores onde quer que eles se escondam.


POSSUI TRABALHOS PUBLICADOS? QUAIS?
Sim, um livro de poemas intitulado “Não Há rumos, só há rimas-poesias desvairadas e sonetos imprecisos”. Essa obra saiu por uma editora universitária e só foi vendido nas livrarias de Minas Gerais.


QUANDO COMEÇOU A SE ENVOLVER COM ARTE?
Desde pequeno eu gosto muito de ler. É óbvio que um escritor nasce da experiência acumulada de um bom leitor, e comigo aconteceu desta maneira. Desde a rimbaudiana idade de 13 anos eu me aventuro a escrever poesias, e meu primeiro contato com a arte escrita vem dessa época.


PODERIA RELATAR DE FORMA SIMPLIFICADA UM DIVISOR DE ÁGUAS EM SUA CARREIRA?
Acho que o fato mais relevante foi o advento do blog. Desta maneira consegui alcançar um número bom de leitores Brasil afora, e até mesmo no exterior. Não sei se esses leitores comprarão um livro que, por ventura, eu lançar, mas acredito que o caminho para a divulgação da obra de escritores desconhecidos passa, necessariamente, pela exposição na Grande Rede. Outro atalho é ganhar concursos literários. Só assim o escritor iniciante pode ter algum poder de barganha com as editoras, que não dão bola para quem está chegando ao mercado.


INFLUÊNCIAS E/OU PREDILEÇÕES?
Tenho grande e profunda admiração por Guimarães Rosa, Dalton Trevisan, Wander Pirolli, Garcia Marquez, Oscar Wilde e muitos outros. Seria simplesmente impossível citar todos aqui. Romancistas, contistas e poetas, das mais variadas épocas e estilos. Não saberia apontar uma influência direta em meus escritos, mas acredito que seja uma soma de tudo aquilo que li, e leio, ao longo da vida.


UM MOMENTO MARCANTE EM SUA TRAJETÓRIA?
Tive o prazer de participar de momentos memoráveis, como nas ocasiões em que falei com crianças sobre o prazer da leitura. Foram trabalhos voluntários, voltados, sobretudo, para crianças carentes. Falei com paixão e algum conhecimento, e espero ter tocado, nem que seja infinitesimalmente, a consciência deles. Criança precisa crescer cercada de livros por todos os lados.


QUAL É A SUA FORMAÇÃO? EM QUE MEDIDA ESTA INFLUENCIOU SUA TRAJETÓRIA ARTÍSTICA?
Sou formado em Jornalismo, e agora estou cursando Direito. Os dois cursos têm em comum a oralidade, fundamental para as divagações jornalísticas e para as atuações nos tribunais da vida. O curso de Jornalismo, que já concluí ainda me ensinou que é possível contar uma história interessante mesmo tendo em mãos elementos prosaicos. Procuro fazer isso sempre que posso. E todo bom cronista foi, antes de tudo, um jornalista.


COMO NASCEU O LIVRO “NÃO HÁ RUMOS, SÓ HÁ RIMAS - POESIAS DESVAIRADAS E SONETOS IMPRECISOS”? COMO SE DEU O PROCESSO DE DIVULGAÇÃO DO LIVRO?
O livro é a compilação dos poemas que escrevi desde os 13 anos. Foi lançado em 2005. Já estou no meu terceiro blog, e nesta época eu assinava o primeiro. Mas a repercussão era mínima, porque o blog ainda não havia despontado como um veículo relevante no meio jornalístico e literário, como acontece atualmente. Desta forma não tive um apoio virtual interessante. Mas agora que conquistei meu espaço na poluída “blogosfera” e também no Orkut, onde tenho aproximadamente 1500 amigos, divididos em dois perfis, acredito que a divulgação seria bem melhor. Eu escrevo em jornal semanalmente em minha cidade, que é a quinta maior de Minas Gerais. E nesta cidade, Montes Claros, eu trabalho como radialista, na emissora mais ouvida. Acho que são elementos interessantes para uma boa divulgação local, caso me aventure a trilhar os caminhos da publicação novamente. Mas o Brasil é muito grande. E para alcançar todos os rincões do país com um livro é necessário um bocado de talento e uma dose maior ainda de sorte.


EM SEUS BLOGS, VOCÊ SEMPRE EXPLOROU A VERSATILIDADE DE SUA ESCRITA. COMO OS LEITORES RESPONDEM A ESTA VARIEDADE DE TEMAS? NOS BLOGS, EM QUE MEDIDA O SUA FORMAÇÃO JORNALÍSTICA INFLUENCIA SEU CARÁTER POÉTICO?
É verdade. O blog traz linguagens diversas. Às vezes os textos flertam com o jornalismo, outras vezes são crônicas poéticas. Não raro também me aventuro a expor poemas inéditos e tudo se torna uma grande salada digital que, espero, não soe insossa. Os leitores são muito atentos e a possibilidade de interferir no processo criativo fazem deles parceiros na construção do blog. É comum, por exemplo, alguém apontar eventuais erros no texto, e dizer, sem meias palavras, que o trecho tal destoou do resto da idéia, e outras coisas do gênero. Críticas assim são sempre bem vindas.
O jornalismo é sisudo, não tanto quanto o Direito, por exemplo, mas ainda assim o caráter direto e imediatista do jornalismo não combina com a poesia. Procuro contemporizar as duas coisas. Tem momentos em que sou o jornalista, com o lead e com o público-alvo que pretendo encontrar na mente, mas tem horas em que sou o aprendiz de escritor, que busca novas possibilidades, estéticas e artísticas, e que não se preocupa em ser ameno, ou ser simpático. São duas verdades em jogo. A fria, do labor jornalístico, e a quente, pulsante, que reside nas minhas entranhas, e que ganha vida nos meus contos e nas minhas poesias. Meio médico, e meio louco.


QUAIS SÃO OS SEUS PLANOS FUTUROS?
Quero lançar livros. Sonho viver de minha Literatura. Parece utópico, mas é exatamente isso que quero. Sei que é difícil à beça, por isso vivo exercitando o “plano b”, que reside no meu trabalho jornalístico, como assessor de imprensa e radialista, e agora nos concursos públicos da vida, na área jurídica. Mas sonho que um dia, das sombras da burocracia do Estado e das redações, surja o escritor pleno, que viva de sua arte, que viaje o mundo participando de congressos e salões do livro, que seja figurinha fácil no Jô e na Leda Nagle, e que possa se vangloriar de viver da Literatura em um país onde tão poucos lêem e que livro ainda é visto como objeto supérfluo e caro. Tenho fé no imponderável.

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